[...] só deixei o que me provoca e inspira para a vida: estrela acesa ao entardecer
Clarice Lispector em “Um sopro de vida (pulsações)”
PERMITA-SE
I – Quando passei de baixo do rabo do peixe, vi que a vida era mais azul.
II – Aceitar escrever tolices à beça, para cantarolar a noite com as luzes.
III – Espremi a luz na porta para que ela não invadisse o escuro. Mas ela veio carregada de estalos, teima entrar por qualquer fresta.
IV – Tentei admirar uma lata que transporta pessoas, mas continuo pensando que aquele lugar cheio de ciscos é mais aconchegante.
V – Estou ouvindo marimbondos cantando uma prece. Eles dão valor de deus aos amigos que acompanham.
VI – Quem nos habita? pergunto. Eu mesmo, respondo. Sou eu dentro de nós.
VII – Silêncio que faz barulho, modifica o sentido das coisas.
VIII – Vejo a beleza das coisas só depois que uma tempestade a inunda. São os privilégios da imundice.
IX – Quando alcançamos a intimidade do mundo, ainda não conhecemos a nós mesmos.
X – Lugar das coisas que não se pretendem, que não levam a nada. Esse é o nosso lugar.
Esses são passos para a transfiguração generosa de um passarinho em clínica.
E o que há de mais leve, sustenta as ideias insanas de quem poetisa.
Tolices incontáveis em números romanos
MARIANA BRANDÃO
P S I C Ó L O G A
CRP 07/24212
